Poesia

PORTAL
Ousar atravessar o portal:
Quem se arrisca e se atreve
A passar o limiar do incerto?
- escolha sempre fatal -
Que apenas uma linha leve
Traçada num espaço aberto
Nos confronta com a aventura:
Parar ou seguir em frente?
Sensatez ou loucura?
Uma dúvida permanente,
Até passar o portal (ou não).
Nem sempre é fácil a decisão.

JPC - Abr 12
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SONHO
Sonho que tarda, sonho distante:
Esperança constante,
Entre angústias e medos,
Por toda a parte vagueia.
Longa, longa espera.
Escorrega por entre os dedos
Como fumo, como areia.
Perfeita quimera,
Sem forma nem semblante,
Por toda a parte errante.
Oh! Quem me dera!

Sonho distante, sonho que tarda:
Sempre esperado; sempre se aguarda.
Mal assoma, logo se esconde
Numa rua estreita
Ou em qualquer esquina.
Espera-se, não se sabe bem onde…
Em todo a parte espreita!
Não se vê, mas imagina.
Da esperança, a retaguarda;
Como Chama sem fim: arda.
Oh! Ditosa sina!

JPC - Abr 12
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IRMÃOS DE LUTA
Partilhando grandes causas, entre mãos,
E pequenas acções – várias!
Talhamo-nos, amigos, camaradas, irmãos!
Em jornadas solidárias.

Com as nossas vontades inflamadas
E incontido desejo de acção.
Por entre tudos e pequenos nadas
Vamos cumprindo a missão.

Que a esta nobre “loucura”
Guardemos constante fidelidade.
Sem ela o sonho morre, não dura,
Com ela… será realidade!

JPC - Mai 03
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AVISO

Olha:
Não vás por esses caminhos
Só porque os outros vão.
No fim, vais-te sentir sozinho
No meio de toda a multidão.
Não penses assim
Só porque parece bem.
Acredita em mim:
Há outro caminho também!

E quem te avisa é teu amigo.
Ouve aquilo que te digo:
Quem te avisa é teu amigo

Olha:
Lá porque os outros falam,
Tu não tens que os imitar.
Se eles não se calam,
Pensa antes em cantar.
Canta com a valentia
De quem nada tem a temer.
Canta de noite, canta de dia,
Sem nunca esmorecer.

E quem te avisa é teu amigo.
Ouve aquilo que te digo:
Quem te avisa é teu amigo

Olha:
Não temas o desafio
Do caminho que hoje espreitas.
Os outros estão cheios… de vazio,
De palavras e frases feitas.
São ocas as suas ideias
E os seus exemplos, até.
Não caias nas suas teias:
Quem te avisa, amigo é!

JPC - Set. 00
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LISBOA

És linda ao amanhecer
Quando o sol acorda para te ver
E te ilumina generosamente.
Grande cidade, com tanta gente!
Repleta de movimento
Em cada rua, em cada momento.
Mas és também tão pequena
No fim de cada tarde serena,
Quando o sol te larga a mão,
Quando te envolver a escuridão
Da noite que principia,
E te vem cobrir com a sua magia.
Sem pressa, ela se demora,
Esperando, como sempre, cada nova aurora.

JPC - Abr. 86
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MELANCÓLICA SAUDADE

Chegou mais uma vez, ousada
Novamente sem avisar.
E sem pedir para entrar
Fez de mim sua morada.

Instalou-se ao meu lado;
Sentou-se à minha mesa.
Serviu-me amargura e tristeza
Em forma de fado, sofrido, chorado.

Lentamente, menos atrevida,
Já satisfeita, foi-me libertando,
Suavemente anunciando,
Estar já de partida.

Levantando-se, foi embora.
Mas prometeu que voltaria:
Noutro dia…
Noutra hora!

JPC - Abr. 86
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VELEIRO

Certa noite em Janeiro
Fui passear ao cais;
E junto ao velho veleiro,
Sonhei: sonhei demais!
Estava velho, podre e encalhado.
Reconstrui-o, fi-lo de novo!
Vi a gente, vi o povo,
Vi o dia animado.
Mas nessa noite sem luar,
Ali junto ao luto do mar,
O veleiro continuava encalhado…

Vi nas suas velas a Cruz de Cristo
E vi os heróis a embarcar
Novamente para a aventura do mar.
Um feito já antes visto,
Mas sempre novo e emocionante,
Onde o perigo e o imprevisto
São deveras uma constante.
Era só o meu sonho…
Pois ali mesmo ao lado
Estava a dura realidade:
O veleiro continuava encalhado…

Vi o agitar de lenços na despedida,
Quando o barco soltou amarras.
E vi mais tarde, no seu regresso,
O cais em festa,
Com cantos, danças e guitarras.
Mas a imagem dessa época já ida
É apenas memória do passado,
Pois naquela areia esquecida
O veleiro continuava encalhado…

JPC - Nov. 85